No Brasil, a união estável vem se consolidando como uma alternativa legítima ao casamento, representando uma forma de relacionamento reconhecida legalmente para casais que desejam viver juntos, mas sem formalizar o casamento civil. Esse modelo oferece proteção jurídica e garantias aos parceiros, especialmente em questões patrimoniais e sucessórias.
Embora a sociedade brasileira tenha adotado costumes mais flexíveis, questões legais envolvendo relações afetivas ainda demandam atenção. A ausência de um documento formal pode trazer implicações importantes, como a mistura dos bens do casal, o que afeta diretamente o planejamento sucessório. A união estável surge como uma solução para regularizar tais situações, sendo regulamentada pela Constituição de 1988 (art. 226, parágrafo 3º) e pela Lei 9.276/96.
O advogado Luiz Kignel, especialista em direito de família, explica que o direito familiar não cria novas relações, mas reconhece e regulamenta aquelas que a sociedade já aceita. “A união estável surgiu a partir dos costumes da sociedade e a lei apenas a regulamentou,” observa ele.
Apesar de ser uma prática antiga, ainda existem dúvidas sobre os direitos e deveres que a união estável envolve, como partilha de bens, herança e direitos dos dependentes. A seguir, entenda mais sobre o que configura uma união estável e como ela se distingue do casamento.
O que é União Estável?
De acordo com a legislação brasileira, uma relação é considerada uma união estável se possuir quatro características essenciais: ser duradoura, pública, contínua e ter o objetivo de constituir família. Ou seja, duas pessoas que se apresentam socialmente como um casal e mantêm essas características estão em uma união estável, mesmo que não formalizem a relação por meio de contrato ou certidão.
A união estável pode existir independentemente de uma cerimônia ou formalização, bastando a convivência e a intenção de formar uma família. Não há necessidade de comprovar um tempo mínimo de convivência, e também não é obrigatório que os parceiros vivam na mesma casa para que a união seja reconhecida.
Outro fator que caracteriza a união estável é a dependência financeira entre os parceiros. Kignel ressalta que alguns casais optam por fazer contratos de namoro para evitar as implicações legais e patrimoniais da união estável, mas tais contratos podem não ter validade caso exista dependência financeira entre os parceiros.
Regimes Patrimoniais na União Estável
Na união estável, os casais podem optar por qualquer regime de bens que seria possível em um casamento, como a comunhão parcial de bens, a comunhão universal de bens e a separação de bens. Porém, caso a união não seja formalizada, o regime aplicado será automaticamente o da comunhão parcial de bens.
Na comunhão parcial de bens, o patrimônio do casal inclui apenas o que foi adquirido durante a união e de forma onerosa. Isso significa que, caso o casal se separe, os bens adquiridos antes da união ou recebidos como herança ou doação não entram na divisão patrimonial.
Já na comunhão universal de bens, não há distinção de bens particulares. Todos os bens adquiridos antes e durante a união são divididos igualmente entre os parceiros em caso de separação. Mesmo investimentos ou veículos registrados no nome de um dos parceiros serão divididos de forma igualitária, caso a união termine.
Diferenças em Relação ao Casamento
A principal diferença entre união estável e casamento está na formalização. Enquanto o casamento exige um processo formal, com cerimônia e registro em cartório, a união estável se baseia na convivência e na intenção de formar uma família. Embora a união estável possa ser formalizada por contrato, não é uma exigência legal.
No entanto, tanto a união estável quanto o casamento garantem direitos similares aos parceiros, especialmente em questões de herança e partilha de bens. A legislação brasileira busca proteger os direitos dos cônjuges e dependentes, reconhecendo tanto o casamento quanto a união estável como relações legítimas.
Entender as implicações legais da união estável é fundamental para que os casais possam fazer escolhas conscientes sobre seu futuro e seu patrimônio