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Terras Indígenas Agora Relatadas como Chave para Mitigar Mudanças Climáticas no Brasil

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Um estudo recente acrescenta à crescente literatura que mostra que as terras indígenas e unidades de conservação são muito mais eficazes na regulação do clima do que as áreas de uso múltiplo. Os autores descobriram que as terras indígenas e unidades de conservação contribuem mais para a regulação climática do que as áreas de uso múltiplo, destacando o papel crucial que as áreas protegidas desempenham nos serviços de fornecimento de água regional e na mitigação das mudanças climáticas em curso.

No entanto, as pressões persistentes de degradação devido a incêndios florestais, desmatamento e mudanças climáticas globais estão desafiando cada vez mais a capacidade das áreas protegidas de regular o clima.

Em abril, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, reconheceu mais dois territórios indígenas, incluindo um território de 32.000 hectares (mais de 79.000 acres) pertencente aos povos Karajá, em Mato Grosso. De acordo com um novo estudo publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation, esse ato sozinho pode muito bem ser o melhor investimento não apenas para os direitos indígenas, mas para garantir a estabilidade climática futura do estado.

O estado de Mato Grosso abrange dois dos maiores biomas do Brasil: a Amazônia cobre cerca de dois terços do estado, e o Cerrado cobre o terço restante. A maior parte da floresta remanescente está protegida dentro de unidades de conservação e terras indígenas, que têm funcionado como barreiras contra o desmatamento, incêndios florestais e degradação. No entanto, Mato Grosso também é o principal produtor de soja e carne do Brasil, e ambos têm crescido à custa da vegetação nativa do Cerrado e da Amazônia na região.

Segundo este estudo sobre terras indígenas e unidades de conservação em Mato Grosso, essas áreas protegidas são cruciais para desacelerar e regular os impactos das mudanças climáticas. No entanto, o mesmo estudo mostra que essa barreira está enfraquecendo. A capacidade das áreas protegidas de manter a floresta intacta já começou a diminuir, especialmente na borda sul da Amazônia, onde a degradação florestal tem sido associada a secas intensas e incêndios florestais.

“Mato Grosso está passando por mudanças intensas devido à expansão de pastagens e agricultura,” disse Hellen Almada, pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale no Brasil e principal autora do estudo, ao Mongabay pelo WhatsApp. “Avaliar se as pressões externas comprometem a capacidade das áreas protegidas de manter seus serviços ecossistêmicos é crucial.”

O artigo utiliza vários conjuntos de dados para analisar como as perturbações humanas e naturais afetam a capacidade das terras indígenas, unidades de conservação e áreas privadas de uso múltiplo de regular aspectos como a temperatura regional e o ciclo da água atmosférica. Avaliando as diferenças na evapotranspiração, temperatura da superfície e albedo da superfície ao longo de um período de 20 anos, eles puderam mostrar que as unidades de conservação e terras indígenas contribuem mais para a regulação climática do que áreas de uso múltiplo ou terras fora de terras indígenas e unidades de conservação.

Nas últimas décadas, o aumento de terras de pastagem e cultivos, grande parte para produção de carne ou ração animal, transformou a paisagem em Mato Grosso. Os autores analisaram dados geoespaciais, mostrando que a vegetação nativa em Mato Grosso diminuiu 10% nas últimas duas décadas, de 73% em 2000 para 63% em 2020. A maior parte foi convertida em pastagens e cultivos, como a soja. Deste total, 69% está localizado na Amazônia e 31% no Cerrado. A fragmentação crescente das florestas e o aumento das temperaturas globais significam que as florestas são muito mais suscetíveis tanto à seca quanto aos incêndios. Por exemplo, os autores descobriram que secas intensas aumentaram a área queimada em unidades de conservação e terras indígenas tanto na Amazônia quanto no Cerrado.

Ainda assim, o estudo descobriu que as áreas protegidas tiveram três vezes menos incêndios por quilômetro quadrado (por 0,38 milha quadrada) do que outras áreas na Amazônia, e ajudam a manter baixas temperaturas, baixo albedo (a fração de luz refletida da Terra) e alta evapotranspiração (o processo combinado de evaporação e transpiração), mesmo durante secas extremas. Isso significa que as áreas protegidas são não apenas essenciais para preservar florestas e vegetação nativa, mas também que, à medida que as temperaturas continuam a aumentar, as áreas protegidas serão ainda mais cruciais para regular os efeitos regionais das mudanças climáticas.